As experiências sensoriais da arte podem se entrelaçar a qualquer momento com os instantâneos de nosso cotidiano. Como podemos relacionar as artes visuais com as experiências do cotidiano? Quais são os elementos marcantes nas artes visuais que podem ser percebidas nos eventos diários ou na história? Através da série de artigos ARTE + COTIDIANO propomos um exercício de percepção, de sensibilidade... de arte! Estimular o pensamento por conceito. Trabalhar a mente para fazer analogias. Ampliar sua criatividade. Em tudo enxergar a arte! A seguir, o Número 6 !
Wodiczko e as mulheres de Tijuana
Krzysztof
Wodiczko é um artista que faz arte para ser experimentada e vista nas ruas.
Nasceu em 1943,
na recém ocupada Polônia pelos soviéticos durante a 2ª Guerra Mundial. Hoje a
Polônia é um país independente. Com certeza isso contribuiu para o
desenvolvimento de seu senso crítico em relação ao poder e ao abuso.
Krzysztof
Wodiczko produz principalmente vídeo projeções em fachadas e monumentos,
combinando arte e tecnologia. Desta forma, o artista quer recuperar as ruas da
cidade como locais de discussão e debate acalorado – suas projeções duram 1 ou
2 dias. As
temáticas deste artista incluem destacar comunidades sociais marginalizadas e dar
legitimidade a questões culturais que muitas vezes são alvo de pouca atenção
do design, sociedade e do governo.
Abaixo a projeção do rosto de mulheres que
contam, em tempo real, com toda carga de emoção, suas experiências sofridas de
vida e trabalho. Mulheres trabalhadoras de uma fábrica em Tijuana.
Através de câmeras apoiadas e voltadas para o
rosto das mulheres, imagens eram projetadas em tempo real na cúpula do “Centro
Cultural de Tijuana”.
“The
Tijuana Projection," 2001 - Krzysztof
Wodiczko
Public projection at the Centro Cultural de Tijuana, Mexico (as part of In-Site
2000)
O artista explica:
“Tijuana. É uma fronteira não apenas
entre o México e os Estados
Unidos, mas também entre Tijuana
e do resto do México, para muitas
pessoas que vêm de províncias
pobres como Chiapas para tentar
avançar a sua vida, movendo para o norte. Eles atravessam a fronteira antes que eles atinjam Tijuana. Essa é a fronteira
entre a aldeia feudal e trabalho na fábrica maquiladora como membros de um novo tipo de proletariado industrial. Eles dizem que é se
deslocar de um inferno antigo
para um novo inferno. Para muitos
deles, isso é uma vantagem. Talvez
não há nada pior do que ficar no mesmo inferno toda
a sua vida longa.”
“Durante a projeção, você podia sentir o tipo de eletricidade e dor
entre aqueles que vieram para testemunhar isso. A posição da imagem foi muito
especial. Em pé na frente do prédio, vimos o rosto sobre as nossas cabeças
falando para nós (como se fôssemos crianças pequenas, pessoas pequenas olhando
figuras de autoridade), mas também falar com o resto do mundo. Além disso, o
discurso foi direcionado para a multidão, para a fronteira, à San Diego ... na
direção dos Estados Unidos”
“Essas mulheres muito jovens trabalham (a esmagadora
maioria são mulheres jovens) de maneiras que nem sequer imaginamos. A sua
situação é incomparavelmente pior do que qualquer coisa que eu tentei
compreender antes. Mas parece-me estar a trabalhar com pessoas que conseguem
sobreviver e se curar até o ponto onde eles podem tirar proveito dos meus
projetos para fazer outro salto para se reconectar com a sociedade”
Para refletir:
Você conhece quais são as minorias sofridas
e exploradas da sua região/ comunidade? Como estas minorias têm procurado
comunicar suas dificuldades (ou estão quietas?)? Como a arte poderia denunciar
os abusos ou a ignonímia com que estas comunidades estão vivendo? E você...se
importa?
Por : Profa. Arq. Maria Pilar Arantes - CENTRO DE ARTES E DESIGN