terça-feira, 6 de maio de 2014

ARTE + COTIDIANO - Edição número 15

Como podemos relacionar as artes visuais com as experiências do cotidiano? Quais são os elementos marcantes nas artes visuais que podem ser percebidas nos eventos diários ou na história?

Através da série de artigos ARTE + COTIDIANO propomos um exercício de percepção, de sensibilidade... Estimular o pensamento por conceito. Trabalhar a mente para fazer analogias. Ampliar sua criatividade. Em tudo enxergar a arte! A seguir, o Número 15!

SOLITÁRIOS MESMO ACOMPANHADOS
(visível também em: http://www.artesedesign.com.br/site/ver-blog/44/)

O filósofo Paul Valéry escreveu:
O homem civilizado das grandes metrópoles retorna ao estado selvagem, isto é, a um estado de isolamento. O sentido de estar necessariamente em relação com os outros, a princípio continuamente reavivado pela necessidade, torna-se pouco a pouco obtuso, no funcionamento sem atritos do mecanismo social. (VALÉRY apud BENJAMIN, 1980, p.43)

O que Valéry afirmava sobre o ser humano do início do século passado também é o que o artista Edward Hopper (Nyack/EUA,1882 - 1967, Nova York) apresenta ao pintar as pessoas das décadas seguintes. Em suas vemos personagens sozinhos, e mesmo quando há pequenos grupos, não há troca de olhares nem a intenção de diálogos. 

Edward Hopper. Noctâmbulos. 1942.

Hopper usa o recurso das áreas de luz para destacar enquadramentos específicos de suas telas, os quais evidenciam que as pessoas isoladas encontram-se próximas da arquitetura ou abrigadas por ela – seja em um posto de gasolina, na entrada de um teatro, num quarto de hotel, na varanda de uma casa, no vagão de um trem, num escritório ou num bar. Porém, nenhum desses lugares se mostra como um ambiente familiar ou aconchegante. São interiores impessoais, sempre cercados por áreas sombrias ou grandes vazios, que intensificam o aspecto de frieza da cena. 

Apesar da proximidade física, há uma imensa distância psicológica entre os personagens de Hopper, calcada por imobilidade e tensão. Parece que este isolamento se intensificou ao longo do tempo devido à aceleração do ritmo urbano e ao aumento da violência. 

É nas maiores cidades que as casas e os prédios precisam ser mais fechados para serem seguros; as trocas humanas em locais abertos são cada vez mais raras, devido à sensação de perigo; e aqueles que circulam pelos centros das cidades passam uns pelos outros sem trocar olhares e cumprimentos, a aproximação de um estranho causa desconfiança. Além disso, a quantidade de tarefas e a carga de trabalhos a cumprir impedem as pessoas de gastar tempo em conhecer umas às outras; os membros das famílias passam cada vez mais tempo separados cumprindo suas obrigações diárias.

Edward Hopper. Noite de verão. 1947.

A questão do isolamento na contemporaneidade é um problema quando desencadeia a sensação de solidão psicológica que muitas pessoas vivem, mesmo que fisicamente estejam em meio a multidões. 

Você se identifica com as personagens dos quadros de Edward Hopper? Se a resposta for “sim”, é preciso reagir, olhar para quem está ao redor e iniciar o diálogo!


Professora Aletea Hoffmeister Mattes
Mestre em Teoria e História da Arte
CENTRO DE ARTES E DESIGN

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